" Mudança de rumo"
Bianca Arruda* sempre sonhou com um futuro promissor para
cada um de seus quatro filhos. Após se separar do marido, trabalhou duro para
garantir o alimento e os estudos para todos eles. Mas ela não imaginava que
mesmo com tanta dedicação e carinho, Richard iria se envolver em crimes e se
tornar um usuário de drogas.
A mãe percebeu que aos 13 anos ele começou a faltar às
aulas, tornou-se rebelde, iniciou amizades que se mostraram inadequadas e, quando
ela tentava orientá-lo, sentia-se cada vez mais frustrada, já que o menino
só tinha ouvidos para seus amigos.
Iludido por eles de que iria obter roupas e calçados de
marca, status e dinheiro, aos 15 anos Richard decidiu largar seus estudos e sair de casa para morar com
traficantes e usuários de drogas do Distrito Federal. “Nosso relacionamento se
tornou muito difícil. Ele me enfrentava”, recorda Bianca, que tentava
repreender o filho com castigos, mas que só desgastavam a situação.
O garoto passou a realizar furtos com armas e participou de
desavenças entre grupos do crime, que resultaram em ameaças para sua mãe e
seus irmãos, que precisaram se mudar de bairro para não correr risco de
morte. “Eu sofria por ver meu filho destruindo a própria vida”, desabafa a
mãe.
Enfrentando o problema
Após três anos de crimes em Brasília e de ter passado por
ameaças de morte e surras de policiais, Richard resolveu morar com um tio no
Rio de Janeiro e tentar recomeçar a vida longe do crime. Mas, infelizmente,
sua situação piorou e ele passou a viver na rua e a consumir maconha e
cocaína. A mãe, mesmo a distância, não deixava de incentivar o filho a
procurar ajuda para tratar sua dependência e a mudar sua conduta. “Lembro que
sentia medo de ser morto pela polícia ou pelos traficantes. Quando já estava
sem esperança, um senhor me encontrou na rua e me convidou para participar de
uma comunidade terapêutica da ADRA Brasil”, relembra Richard.
Com a intenção de ajudar diversas pessoas que passam pela
mesma situação, a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos
Assistenciais (ADRA Brasil) criou em 2013 o projeto Vidas Transformando Vidas,
localizado na cidade de Campo Grande, no Rio de Janeiro (para saber mais,
acesse adra.org.br). O espaço oferece tratamento especializado e
multidisciplinar baseado em atividades educacionais e profissionalizantes,
integrando todas as características essenciais de uma comunidade terapêutica.
O objetivo da iniciativa é tratar a dependência química
por meio da mudança no estilo de vida, entendendo o uso abusivo como sintoma
de um desajuste psicológico e social da pessoa. O método empregado para o
tratamento decorre de um trabalho multidisciplinar em regime de internação de
nove a dezoito meses, dependendo das necessidades de cada indivíduo.
Atualmente, Richard está recuperado, retornou aos seus estudos, tem um emprego
e se prepara para ingressar na faculdade.
No Brasil, cerca de 18 milhões de pessoas lidam com a
dependência química, e diversas famílias sofrem por não saber como
enfrentar a situação. Para orientar a como auxiliar um amigo ou parente que
passa por isso, a terapeuta comunitária e técnica em Dependência Química
Vasti Rainer, coordenadora de outra comunidade terapêutica mantida pela ADRA
Brasil na Bahia, sugere algumas dicas importantes:
Ouça
Dar atenção para quem está no vício é muito importante.
Essas pessoas possuem grande carência e necessidade de ser ouvidas.
Não recrimine
Trate com amor quem está nessa situação. Recriminar pode
só piorar as coisas.
Ajude
Pergunte qual é a melhor forma de ajudar. Demonstre que
você está disposto a auxiliar de diferentes maneiras, seja com um abraço ou
levando em alguma comunidade terapêutica.
Para evitar que seus filhos se envolvam com a dependência
química:
Conheça
Para a prevenção é importante que os pais conheçam bem
seus filhos. Acompanhe seus estudos, amizades, conheça as pessoas com as quais
eles estão em contato pela internet e telefone.
Envolva-se
Procure envolver seus filhos nas decisões e planejamentos
da família, bem como na escolha do local para passar as férias, a compra de
um móvel para casa ou de um carro novo.
Dedique tempo de qualidade
Realizem atividades juntos. Através da conversa vocês se
conhecerão mais. Andem de bicicleta juntos, criem uma horta, pratiquem
esportes, façam dinâmicas e competições para que estejam todos envolvidos.
Cuide da alimentação
Evite temperos, alimentos e bebidas picantes que possam
despertar nos pre-dispostos à dependência química a vontade de experimentar
substâncias mais fortes.